O segredo é o terceiro "T"

Por Marcelo Pedrosa

 

  “O cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário”. Assim definiu o termo voluntário o programa Comunidade Solidária, ação do governo Fernando Henrique Cardoso que pretendia combater a pobreza e a exclusão no Brasil. Embora essa iniciativa tenha sido substituída pelo “Fome Zero”, a definição permaneceu e hoje é considerada pelos centros de voluntariado espalhados pelo país, a mais apropriada expressão do que é ser voluntário.  É nela também que está o segredo que pode fazer o voluntariado ser leve, sem aquele estigma de algo desagradável e pesado: o terceiro “T” (Talento). É ele que pode transformar o ato de doar tempo e trabalho em um exercício de vocação, como confirma Mirella Ramacciotti, Vice-Presidente da ONG English for All que, em parceria com outras instituições, ensina Inglês às crianças que não podem pagar por um curso particular: “Fiz Direito, mas descobri minha verdadeira vocação como professora”. Ela dá aulas há 22 anos e diz que sua paixão é o trabalho voluntário, o que deve fazer com bastante prazer visto o entusiasmo com que fala dele, apesar encará-lo “com a mesma seriedade e dedicação que o trabalho renumerado”.
 

  Se exercer a vocação é um prazer, como também afirmava Confúcio há uns milhares de anos atrás (“Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.”), o voluntário hoje pode fazer isso sem maiores dificuldades. O Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP), por exemplo, coloca em seu site ferramentas de busca de oportunidades em trabalho voluntário em que os critérios podem ser ONGS próximas ao seu CEP ou a área em que se queira atuar, como por exemplo saúde, educação, cidadania etc. Tudo isso exercendo a profissão escolhida ou as atividades que mais agrade a quem está disposto a ajudar. “Porque eu sou psicóloga, ué!”, responde Maria da Graça Silva Pedrosa, 61, que dá atendimento psicológico gratuito em uma igreja perto de sua casa, quando perguntada porque escolheu prestar essa tipo de ajuda. Ela ainda afirma que o voluntariado lhe ”dá prazer e aprendizado”. 
 

  Essa relação entre aptidão e voluntariado é tão consistente que em alguns casos as ONGs selecionam somente quem tem o perfil adequado ao serviço que a entidade presta. “Se o projeto não tiver a cara do voluntário, ele não vai ficar”, afirma Suely Calazans, 63, coordenadora de uma ONG que escreve cartas para aqueles que não sabem escrever. Os voluntários têm que passar por uma seleção para prestar serviço no programa. Ela ainda diz que se não for dessa maneira, o projeto não atende às expectativas do voluntário e ele não continua na instituição. 
Se tempo e trabalho fossem pão, o talento seria a manteiga. Completa com perfeição.

 

Outras informações:
English For All:  www.englishforall.org.br/src/index.php
Centro de Voluntariado São Paulo (CVSP):  www.cvsp.org.br/

Fonte da Imagem: www.pslg.com.br/pastorais/paz_mundo_voluntariado.jpg