Brasil fora-da-lei
Por Leonardo Moreira
Carl Sagan e Stephen Hawking não escreveram livros esclarecedores sobre a astronomia só porque as estrelas são bonitinhas. Há 14 bilhões de anos a “lei das estrelas” rege o universo e a humanidade no total, e é uma ferramenta para que se desvende a trajetória de cada um. Se a história é advertência do futuro como já disse Miguel de Cervantes, o conhecimento é indispensável para que se deem os próximos passos.
Não é segredo para ninguém: desde a corrida espacial, as grandes potências têm em comum os programas científicos avançados. Além disso, todos os premiados com o Nobel em áreas científicas provêm de países com um programa astronômico bem desenvolvido. O envio de um astronauta à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) - menos uma iniciativa de incentivo à ciência do que uma manobra política - constitui uma parcela diminuta do desempenho de uma nação no que diz respeito à ciência, ainda mais quando o turismo espacial já se configura como realidade.
No Brasil, tudo isso é novidade. Somos bandidos fora-da-lei. Apesar de Beatriz Barbuy já ocupar a vice-presidência na União Astronômica Internacional, posicionada em cargo inédito para um profissional brasileiro, há apenas um ano foi aberto o curso de bacharelado em astronomia na Universidade de São Paulo (USP). O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), por outro lado, já está incorporado ao local desde 1946 e um dos professores, Enos Picazzio, é um dos que sustentam que a demanda por investimentos no setor científico como um todo ainda persiste.
Formado em física à época da ditadura militar, Picazzio conta ter optado pela área porque a formação cultural lhe pertenceria independente do rumo que o país tomasse, qualquer que fosse a situação. Poder presenciar a adequação de descobertas da ciência ao cotidiano também pesou a favor da escolha. “A astronomia permeia as demais ciências naturais; o universo é o laboratório onde tudo o que conhecemos acontece”, reflete ele, que também revela ter compreendido a essência da vida através dos estudos.
Em contraste com esse otimismo, o Dr. Picazzio conta ser o mercado de trabalho restrito o maior obstáculo para o exercício da profissão, que continua sendo implementada em suaves prestações nas listas de opções das universidades. Assim, segue-se crendo que Vênus é a “estrela” mais brilhante, a d’alva, da tarde ou qualquer que seja. Tudo menos um planeta, aquele para o qual Paul Preuss transportou Arthur C. Clarke, em obra fictícia inspirada por histórias deste autor.