DIA MUNDIAL DO ROCK: MÚSICOS FALAM SOBRE O GÊNERO NESTE 13 DE JULHO
Quando, na década de 1950, o disc-jokey Allan Reed nomeou como rock and roll o gênero musical que surgia, talvez não imaginasse as conseqüências que essa nova música teria para a cultura e estilo de vida de pessoas em todo o mundo. Nos Estados Unidos, as culturas negra e branca entram em contato e se influenciam mutuamente no decorrer da 2ª Guerra Mundial e da Guerra da Coreia. Blues, jazz, country e música gospel negra se encontram nas cidades, com a saída de trabalhadores do campo.
O pós-guerra é marcado pela euforia do consumismo e, tão logo caiu na mão dos jovens o poder de adquirir a música que desejassem ouvir, os selos que lançavam artistas negros ganharam maior projeção.
A gíria dos negros americanos que se referia ao ato sexual, rock and roll, foi difundida pelo radialista Allan Freed, criador do programa Moon Dog Show, que seria renomeado para Moon Dog Rock And Roll. Freed promovia festas ao som de blues e rhythm and blues, que mais tarde seriam tomadas pelo novo estilo.
O gênero que a partir de então consagraria inúmeros artistas acarretou a realização do “Live Aid”, festival que teve como objetivo arrecadar fundos para combater a fome na Eitópia. O evento reuniu, no dia 13 de julho de 1985, aproximadamente 72 mil pessoas no estádio de Wembley, na Inglaterra, e, simultaneamente, cerca de outros 100 mil espectadores no estádio John F. Kennedy, nos EUA. Estima-se que 1,5 bilhão de pessoas tenham assistido às transmissões do espetáculo.
O “Live Aid” foi, portanto, o estopim para a comemoração do Dia Mundial do Rock, celebrado nesta quarta-feira.
O Joio entrevistou integrantes de cinco bandas do cenário alternativo brasileiro: Chuck Hipolitho (Vespas Mandarinas), Ruben Yannelli (Cosmo Drah), Victor Rocha (Black Drawing Chalks), Vinícius Lepore (Limousine Drivers) e Kuky Sanchez (Pedra Letícia).
Na sua opinião, por quais motivos o rock se mantém tão forte ainda hoje?
Chuck Hipolitho: Porque é legal pra caralho.
Ruben Yannelli: O rock se mantém como música jovem, por ser musica jovem não depende muito em seguir um mesmo gênero ou um mesmo estilo. O rock vai mudando com a sociedade. Se pro mainstream chega um rock mais "consumível" e descartável, sem ídolos, é na verdade um reflexo do que vivemos, o "tudo assim mesmo aqui e agora". Ao mesmo tempo surgem bandas independentes muito respeitáveis em todos os lugares, mas são exceção, e o publico dessas bandas também é. Quem caça essas bandas independentes não gosta muito do que está rolando na MTV, no rádio etc. Eu costumo falar que somos "subversivos". [O rock] se mantém forte mundialmente. No Brasil isso já não posso afirmar.
Victor Rocha: Hoje em dia, o rock se tornou um estilo menos mal visto pela sociedade no geral, mas nem por isso perdeu a agressividade, atitude, impacto, que é uma das principais características. Dentro do rock nasceram tantas vertentes que é impossível achar alguém que não goste de pelo menos uma dessas. O Brasil sempre foi um país com pessoas de atitude. Acho que o rock nunca nos deixará.
Vinícius Lepore: O rock se mantém forte porque existem coisas a serem questionadas. Rock é sobre questionar. Toda banda de rock acaba questionando algo, seja visualmente, ideologicamente, politicamente... Não importa o quão ideal seja o mundo em que vivemos, sempre vai ter uma banda de rock pra questionar algo que julga errado.
Kuky Sanchez: O rock para mim é totalmente atemporal, ele se renova e se adapta a cada geração desde os primeiros "rockers" aos “coloridos" de hoje. Independente de qualquer estilo musical no mundo, as turnês mais caras e lotadas e os artistas mais bem pagos no mundo da música são do rock.
Qual a importância do rock para você?
CH: Me ensinou a ter segurança e a ter liberdade de ser o que eu quiser e fazer o que eu quiser.
RY: O rock formou minha adolescência. Se hoje tenho uma formação musical e adoro música é pelo rock. É um abridor de portas para a música para muitas pessoas
VR: Eu não penso no “rock", eu penso em música. A música é uma das necessidades básicas. Temos de extrapolar de alguma forma nossa energia, pensamento, diversão... Temos que nos mostrar, expressar... A música é o nosso maior psicólogo, falando merda, ou falando de coisa séria... No meu caso eu falo muita merda, mas até nessas merdas você acha uns toques sérios (risos).
VL: Eu gosto do rock por não haver 'regras' a serem seguidas. Me refiro à música, principalmente. Você simplesmente ouve e sabe que é rock. Acho engraçado quando as pessoas dizem que rock é música de gente que gosta de preto ou algum estereótipo assim. Você tem os Beatles, o Iron Maiden, o Nirvana... São bandas de rock e são completamente diferentes em tudo - mas são bandas de rock.
KS: Tudo o que sou hoje é graças ao Rock, que aflorou a minha musicalidade. Hoje aos 40 anos, vivendo única e exclusivamente de música há 23 anos, posso dizer que devo o que sou ao bom e velho rock n’ roll.
Na sua opinião, qual a maior contribuição do gênero para a cultura e a música?
CH: Uma incrível máquina que transforma rebeldia em cultura na forma mais direta que existe em termos de linguagem: a música.
RY: Por ser mutante ele se agrega a vários estilos, sua contribuição é justamente deixar acessível outros gêneros, como o progressivo (música clássica e jazz), hard rock (influência do blues), o fusion (jazz), sem contar artistas que não tem classificação. Raul Seixas é um cara da cultura roqueira que toca um baião, um tango, um folk.
VR: O rock veio para salvar todas as ovelhas negras desse mundo! A Rita Lee já disse isso. Ovelhas negras ou não, nós temos na musica de impacto uma maneira de acordar todos, de instigar, estimular.
VL: Para a cultura, fazer pessoas que se julgavam diferentes dançarem no mesmo salão. Para a música, provar que não se precisa de mais de três notas, às vezes duas, para se fazer uma grande música.
KS: O Rock vem desde os anos 50 mudando o comportamento das pessoas. Se você olhar a cada década um jovem, vai observar o seu jeito de vestir e de se comportar na maioria das vezes influenciado pelo rock. Fico imaginando se o Elvis estivesse vivo, o que passaria na cabeça dele agora. Ele lembrando o rock desde "That's All Right" até hoje com as vertentes que o puro rock n’ roll trouxe para nós. De Elvis a Sepultura quanta coisa aconteceu.
Como foi seu primeiro contato com o rock?
CH: Ouvi “La Bamba” no rádio, na época em que foi lançado o filme, e então meu pai comprou o disco da trilha para mim. Ainda é um dos meus discos favoritos.
RY: Meu primeiro contato não é muito normal no Brasil. Por ser argentino eu tive meu primeiro contato com uma banda de que minha mãe gostava: Sui Generis, uma banda dos anos 70. Aquilo tinha uma potência gigante, as letras falando de assuntos que eu entendia. A proximidade que te dá ver caras que tem quase a sua idade (ou tinham) falando dos seus mesmos problemas é algo indescritível. Sem contar q o instrumental que podia ser sutil ou agressivo, ou podia ser tudo isso num mesmo som.
VR: Meu pai, rockeiro desde moleque, me aplicou classicos no vinil desde bebê: AC/DC, Tears For Fears, Duran Duran, Led Zeppelin, Queen, e por aí vai. Ele é do tipo que se irrita quando o vizinho está ouvindo sertanejo alto (risos). Eu aprendi a abstrair , mas adoro Cristian e Ralf! (risos).
VL: O clipe de "Hello, Goodbye", dos Beatles.
KS: Acho que pra mim, como para muitos da minha geração, a primeira experiência com o rock veio através dos Beatles e Rolling Stones, ainda bem criança escutando os compactos naquelas vitrolinhas, depois entre 11 e 12 anos conheci bandas como Kiss, Journey, AC/DC, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, aí a coisa mudou (risos). Eu escutava as músicas e pirava com aquelas guitarras distorcidas. Ainda tenho esses compactos e os primeiros discos de vinil aqui em casa.
Que impacto teve/tem o rock na sua vida?
CH: Desde os 10 anos, quando eu ouvi o tal disco pela primeira vez na minha, fodeu com tudo de lá pra cá.
RY: Em primeiro plano transformou um moleque que queria ser advogado em um músico. Graças a Deus, ninguém quer mais advogados no mundo (risos). E mudou muitos conceitos. Digamos que eu mudei de um sujeito correto aos padrões normais (casa, trabalho, estudo, casa e assim eternamente) para alguém que prefere mais viver, que gosta de se encontrar com os amigos pra fazer um som, conversar e que não deixa a faculdade e trabalho atrapalhar seus estudos.
VR: A música é meu maior hobby, minha maior forma de me divertir e ser produtivo ao mesmo tempo, por isso sou meio contra ao cover, mas tudo tem exceção. A melhor coisa no mundo é cria uma música e ver a reação das pessoas se identificando com ela, ver a sua música exercer influência nos outros, é ver o quão poderosa é essa arma! Eu busco usar a minha pra tornar os momentos de diversão das pessoas melhores, sem grandes pretensões.
VL: Me fez questionar diversas coisas em diferentes momentos. Ainda faz. Lembro que na época em que fiz catequese eu comprei o "Nevermind", do Nirvana. A primeira vez que ouvi o verso "God Is Gay" fiquei pensando muito naquilo. Perguntei isso para a minha catequista e não lembro o que ela disse, mas ela não gostou muito.
KS: O que sou hoje é graças ao rock, foi ouvindo rock que aprendi a amar a música e hoje vivo dela, e tudo começou quando vi pela primeira vez na TV um video do Kiss. Eu olhei para o baixista Gene Simmons e pensei: "é isso que eu quero fazer pro resto da minha vida!".
Na sua opinião, quem é/foi a figura mais revolucionária do rock?
CH: O trio Chuck Berry, Little Richards e Jerry Lee Lewis. O resto é história.
RY: Existem vários, mas eu coloco Little Richard e Chuck Berry como astros acima de todos Eles enfrentaram preconceito racial e gravadoras roubando seus direitos autorais para brancos tocarem seu som. Graças a eles o rock ainda existe.
VR: Difícil citar apenas um! Mas no "meu" mundo do rock com certeza o cara é o Lemmy do Mötorhead. Mas temos Ozzy Osbourne, Jimmy Page, Jimi Hendrix, Elvis Presley, Johnny Cash. São seres de outro mundo! Vieram pra nosso planeta só pra jogar a bomba!
VL: Não tem como ter alguém “mais” revolucionário. As pessoas fazem revoluções diferentes de acordo com a época em que vivem. Acho o John Lennon um cara bem diferente pela postura que adotou ao longo da carreira. Ele soube usar sua imagem pública como poucos homens fizeram.
KS: O Rei Elvis Aaron Presley.
E na sua vida, qual a banda/músico mais influente?
CH: Os Ramones.
RY: Na minha vida eu coloco o Sui Generis, principalmente o pianista chamado Charly Garcia.
VR: Como sou um guitarrista amador, sempre pirei no Jimmy Page (Led Zeppelin). Para mim, é o cara das guitarras, riffs, cabuloso! No palco como atitude e voz, Freddie Mercury (Queen) é um monstro e a Pj Harvey também. Mas piro só de ver 10 segundos do John Bonham (Led Zeppelind) tocando. Enfim, Led zeppelin é pra mim a grande banda!
VL: A primeira banda que realmente me influenciou foi o Nirvana. A música deles me convenceu a tocar e fazer música. Depois você vai descobrindo outras bandas, outros estilos... Atualmente tenho ouvido muito Nick Cave. Ele é um cara genial
KS: Bandas: The Beatles, Kiss e Journey. Baixistas: Paul McCartney (Beatles), Flea (Red Hot Chilli Peppers) e Glenn Hughes (Deep Purple).
Indique 3 discos/bandas
CH: “Rocket To Russia” do Ramones, “ Funhouse” do Stooges e a coletânea “The Great Twenty Eight”, do Chuck Berry.
RY: Vou indicar um clichê e dois que a galera tenha de caçar: o primeiro do Black Sabbath é um clássico de todos os tempos, depois recomendo "Vida" do Sui generis e para fechar, "Snegs", do Som Nosso de Cada Dia.
VR: Para momentos calmos:
Pj Harvey. “White Chalks”: Música calma, piano e uma voz linda! Eu amo essa mulher!
Para momentos de brisa, estrada:
Tame Impala, “Innerspeaker”: Música nova com cara de velha, perfeita para pegar uma estrada!
Para quebrar tudo:
Deftones, “Diamond Eyes”: Cara, esse CD é muito bom! Pressão, pressão, pressão!
Acho que esses são os CDs que eu mais ouvi nos últimos meses. Mas tem os últimos do Black Keys, do Black Moutain e do Foo Fighters, muito bons!
VL: "Let Love In" do Nick Cave, "Strange House" do The Horrors e o primeiro disco da Apanhador Só.
KS: “Help” dos Beatles, “Creatures Of The Night” do Kiss e “Frontiers” do Journey.