Desordem Metropolitana


Por Leonardo Moreira


        Na quinta-feira passada, 16 de setembro, o alarme do metrô de São Paulo tocou. Os trens da linha azul circulavam com velocidade reduzida e maiores tempos de parada. Os usuários que desejassem fazer a transição para a linha verde na estação Paraíso teriam que aturar uma situação caótica, em que vozes berravam para evitar – ironicamente – o atropelamento de um cadeirante. Era cerca de 9h30. Uma agitação regia os nervos de uma fila indigna de assim ser classificada, já que se tratava de um gigantesco amontoado de pessoas que aguardavam, sem ordem, o momento oportuno para embarcar em um transporte que recebeu uma média diária de 3,3 milhões de pessoas, no ano passado.
           
       Grávida, uma mulher chorava. Precisou ser amparada pela segurança do local. À primeira vista, poderia-se julgar que seu mal-estar era devido ao alvoroço. Aqueles que ali já estavam há alguns minutos, entretanto, pareciam ter certeza de que era a figura de um rapaz que lhe atemorizara. Ele estava acompanhado da mãe, confirmaram os guardas, e sofria de epilepsia. Os olhos, brancos como bolas de gude leitosas prestes a estourar em partículas de vidro, compunham uma cenário de horror para os que estavam ao redor. Era óbvio, também, que para o jovem aquilo tudo era um grande pesadelo, verbalizados por suplícios: “Não!”... “Ai!”...

Tal qual um ser que lamenta o fim trágico de um ente querido, ele grunhia. Naquele palco que era o chão frio, quatro indivíduos o seguravam, a fim de evitar que se machucasse enquanto se debatia.
           
        Esta semana, na terça-feira, cinco dias depois da primeira pane, soou novamente o alarme do metrô. Mais algumas centenas de trabalhadores não chegaram a tempo ao serviço. Tiveram de desembarcar em meio aos trilhos, quando o sistema parou, e outros até caminharam para o local de trabalho. Menos de uma semana depois, o alarme do metrô de São Paulo tocou. De novo.